A chegada de um aluno autista fez direção, professores e alunos da Escola Estadual Rosarinha Pimentinha criarem um pacto para integrar e auxiliar alunos da Educação Especial

A admissão de um aluno autista na Escola Estadual Rosarinha Pimentinha, do município de Capelinha (SRE/Diamantina), provocou impacto solidário na comunidade escolar e na vida do menino Nelson Henrique Rodrigues Siqueira. A escola já atendia a outros alunos de Educação Especial e conta com uma sala de recursos para Atendimento Educacional Especializado (AEE), que é utilizada também por estudantes de outras escolas do município, com um total de 40 alunos.

O autismo pertence a um grupo conhecido por Transtornos de Espectro Autista - TEA. Esses distúrbios, que se caracterizam pela dificuldade na comunicação social e comportamentos repetitivos, podem ter como sintomas fobias, agressividade, dificuldades de aprendizagem, dificuldades de relacionamento, entre outros. Os especialistas descrevem o autismo como único para cada pessoa, uma vez que existem vários níveis diferentes de TEA, e até mesmo pessoas que apresentam o transtorno, mas sem nenhum tipo de atraso intelectual.

Nelson está alfabetizado e passou a tirar notas A. Foto: Arquivo da Escola.

 “Fui comunicada que receberia o aluno em minha turma e confesso que fiquei preocupada por se tratar de uma situação inusitada para mim”, conta a professora Neusa Martins Ferreira. Três alunos com outras deficiências estudam na mesma classe. Segundo a professora, o primeiro passo foi conversar com os familiares da criança, pesquisar mais sobre o autismo e preparar a classe para recebê-lo. “Conversamos muito com os alunos sobre o novo amiguinho e pedi a eles que ajudassem, a mim e ao Nelson, para que ele se sentisse confortável,  bem recebido e integrado à turma”, relata Neusa.

De acordo com a educadora, no início o aluno Nelson Henrique Rodrigues Siqueira tinha rompantes de agressividade, chorava muito e era “arredio”,  era acompanhado pela mãe durante as aulas. “Aos poucos fui descobrindo que inclusão deveria ser inversa. Precisávamos conhecer o mundo dele e nos incluir”, conta professora, que passou a inverter a ordem da dinâmica de suas aulas, começando com brincadeiras, com exercícios lúdicos, para depois partir para a prática. “O mais importante foi como a turma aderiu ao processo”, observou Neusa.

A comunidade escolar abraçou a causa da inclusão. Foto: Arquivo da Escola

Aos poucos o Nelson foi adquirindo confiança com a professora e começou a interagir com seus colegas. O primeiro sinal de interação, segundo a professora, foi se afastar de um bicho de pelúcia, objeto com o qual “parecia resumir sua interatividade”, conta Neusa. Outro passo importante foi quando a mãe deixou de acompanhá-lo em sala de aula. A partir de então, ele foi se enturmando com os demais colegas.

Nelson cursa o 2º ano do Ensino Fundamental, e já está alfabetizado: lê, escreve, interpreta, realiza as operações básicas de matemática, conforme o padrão nesse ano de aprendizagem. Claudiana Rodrigues da Cruz, mãe de Nelson, se diz surpresa com a inteligência do filho e sua evolução depois que começou a estudar na Escola Rosarinha Pimentinha. “Não sabia que ele era uma criança autista. Percebi que havia algo diferente porque desde pequeno só gostava de ficar no quarto, no escuro, e assistia ao mesmo episódio de desenho”, relata a mãe. Ela conta que em outra escola em que Nelson estudou, as atitudes diferenciadas do filho eram entendidas como pirraça. “Quando nasceu meu segundo filho, foi também detectado o autismo e então entendi que ele também tinha esse transtorno”, disse Claudiana.

O acolhimento na escola estadual foi fundamental para seu desenvolvimento, conta a mãe. “Eles perceberam todo o processo e o atenderam com outro olhar. As atitudes da diretora (Maria Marta Gomes) e da professora Neusa foram muito importantes. Às vezes ele ainda tem crise nervosa ao chegar à escola, mas a professora o acalma com muito jeitinho e o convence a entrar. Ele não usa mais as fraldas durante as aulas, que eram utilizadas porque ele tinha medo do vaso sanitário, e agora consegue fazer suas necessidades normalmente no banheiro”, comemora Claudiana.

O aluno revelou suas habilidades principalmente na matemática. Foto: Arquivo da Escola

Segundo ela, Nelson gosta muito de utilizar o computador e sempre faz os deveres logo que chega em casa . Ele passou a tirar nota A em seu boletim, principalmente na matemática. “Fiquei surpresa de como ele é inteligente”. O segundo filho de Claudiana, Pedro Davy Rodrigues da Costa, de 5 anos, utiliza há um ano a sala de recursos da Escola Estadual Rosarinha Pimentinha. “Tenho percebido muita diferença entre os dias de hoje e antes dele frequentar a sala”, revelou.

A Organização das Nações Unidas (ONU) criou, no dia 18 de dezembro de 2007, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, com o intuito de alertar as sociedades e governantes sobre esse transtorno, com o propósito de derrubar preconceitos.

Por: Elian Oliveira/ACS-SEE

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