Niemeyer é responsável pelo projeto de três escolas estaduais mineiras

 Nesta quinta-feira, o mundo amanheceu sem um dos seus maiores gênios da arquitetura. Falecido na noite de ontem (05-12), o arquiteto Oscar Niemeyer tinha 104 anos e no próximo dia 15 de dezembro completaria os seus 105. Durante esse tempo, foram mais de 80 anos de trabalho, nos quais ele projetou alguns dos ícones da arquitetura mundial. Brasília, o sambódromo do Rio de Janeiro, e a Sede da ONU, em Nova York, são algumas de suas obras. Para os mineiros, a relação com o arquiteto é ainda mais especial, afinal ele deixou no Estado algumas de suas obras mais marcantes. A igrejinha da Pampulha talvez seja a mais famosa delas. Entre tantas obras-primas, Niemeyer deixou heranças também para estudantes da rede estadual de ensino mineira, já que é responsável pelo projeto de três escolas.

Em Cataguases, o arquiteto projetou o Colégio de Cataguases, atual Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto. Em Diamantina, ele é responsável pelo projeto da Escola Estadual Professora Júlia Kubistschek. E em Belo Horizonte, Niemeyer é responsável pelo projeto de umas das escolas estaduais mais famosas e tradicionais de Minas, a Escola Estadual Governador Milton Campos, conhecida como Estadual Central.

Estadual Central é hoje uma das obras do arquiteto mais conhecidas em Minas Gerais. Foto: Hudson Menezes

Em uma das escolas estaduais mais importantes de Minas Gerais o legado deixado por Niemeyer é quase tão importante quanto a história da instituição. Fundado em 1854, ainda com o nome de Liceu Mineiro, o Estadual Central só foi transferido para Belo Horizonte em 1898. A influência de Oscar Niemeyer só veio na década de 1950, quando o arquiteto fez o projeto da unidade principal da Escola. Hoje, para os estudantes, o prédio do Estadual Central não é simplesmente um lugar para estudar, mas um misto de aula de história e obra de arte. Tanto que, segundo o diretor da escola, Jefferson Lopes Gonçalves Pimenta, até visitantes estrangeiros costumam buscar inspiração na obra de Niemeyer.

“Esse ano mesmo eu recebi cerca de 30 estudantes de arquitetura e arquitetos formados até de fora do Brasil visitando o prédio. Foram pessoas da Itália, da Suécia e do México. O estadual é muito conhecido em Minas e no Brasil em função de sua história e é conhecido em todo o mundo devido ao trabalho de Niemeyer. Eu me sinto privilegiado de ser diretor dessa escola, que além da tradição em termos de ensino, tem essa tradição por conta do prédio onde funciona”, explica Jefferson.

Obras na Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto serão concluidas em 2013. Foto: Arquivo Escola

Já na Zona da Mata mineira, Niemeyer deixou seu legado no município de Cataguases.  Fundada na década de 1940, a Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto foi criada inicialmente para atender aos filhos de fazendeiros. Na década de 1960, a escola foi doada para o Governo de Minas e passou a atender aos filhos dos operários.

Na escola, a história de sua fundação e o papel de Oscar Niemeyer no desenvolvimento do município são conteúdos estudados nas salas de aula, o que para o aluno do 8º ano do ensino fundamental, Gabriel de Oliveira Machado, é fundamental apara a valorização da história. “É muito importante conhecer a história da escola para que possamos cuidar ainda mais desse patrimônio que é nosso. É um prazer estudar em um colégio que tem uma história tão rica e que foi idealizada por uma pessoa tão importante quanto Oscar Niemeyer”.

Escola Estadual Professora Júlia Kubistschek foi projetada para homenagear a mãe de Juscelino Kubistschek. Foto: Arquivo Escola

A Escola Estadual Professora Júlia Kubistschek, em Diamantina, é outra obra mineira que foi idealizada por Niemeyer. A escola atende a cerca de 300 alunos do 1º ao 4º ano do ensino fundamental e na próxima quarta-feira (12-12), ao encerrar o ano letivo de 2012, o arquiteto será homenageado. “Buscamos sempre ressaltar com os nossos alunos a importância de estudar em uma escola como essa. Já fizemos desfiles em homenagem ao Niemeyer, maquetes, entre outros. Na quarta-feira vamos fazer uma roda de conversa com os alunos e mostrar para eles fotos de obras do arquiteto e falar da importância delas para Minas Gerais”, ressalta a diretora da escola, Maria José Matildes Cunha Rodgher.

Ainda segundo a diretora, a escola foi projetada no início da década de 1950 e foi criada pelo arquiteto para homenagear a mãe do então governador Juscelino Kubitschek. “Niemeyer era amigo de Juscelino e segundo as pessoas contam, a escola foi uma homenagem à dona Júlia”, afirma Maria José.

Traço característico

Segundo o professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Alberto Maciel, as três obras de Oscar Niemeyer presentes na rede estadual de ensino de Minas Gerais possuem algumas características comuns.

“Ele tem o cuidado na distribuição dos volumes construídos. Há um equilíbrio entre os blocos construídos e os espaços livres. Ele também cria diferentes espaços com o uso de pilotis, como a elevação do bloco de salas de aula que cria um pátio sombreado”.  O professor ressalta ainda um aspecto marcante da obra de Niemeyer no Estadual Central. “A qualidade das obras dele decorre do contraste entre uma forma plasticamente elaborada com os volumes mais regulares, ou seja, ele tem um conjunto de volumes mais neutros que funcionam como pano de fundo para uma forma mais plasticamente elaborada. Além disso, o auditório dessa escola tem formas esculturais que se aproximam bastante de outras obras dele”.

Encontro de alunos do Estadual Central, em 2004, com Niemeyer em Museu de Belo Horizonte. Foto: Arquivo Escola

Homenagem ao mestre

A secretária de Estado de Educação, Ana Lúcia Gazzola, ressaltou a importância de Oscar Niemeyer para o país. “Nós perdemos um grande brasileiro e uma pessoa que marcou, profundamente, a história nacional, não só no campo da arquitetura, mas nos campos da política, da vida nacional, dos valores. Niemeyer é uma pessoa que fez muita coisa em nossa arquitetura, um nome de impacto nacional e internacional. Além disso, formou tantas gerações de brasileiros. Também quero lembrar o grande cidadão, o brasileiro de ideias arrojadas e inovadoras, o homem preocupado com a justiça social. Eu acho que é uma grande perda e uma bela vida que se encerrou e que agora permanecerá naquele lugar especial dos grandes nomes da nossa memória e da nossa lembrança”.

Conservação do patrimônio

A Secretaria de Estado de Educação iniciará uma reforma geral e restauração do anexo arquitetado por Oscar Niemeyer no Estadual Central. A obra encontra-se em fase de orçamento no Departamento de Obras Públicas do Estado de Minas Gerais (Deop). A escola é tombada pelo patrimônio municipal de Belo Horizonte.

Já a Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto está com obras em estágio avançado. No prédio, que é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), cerca de 60% dos trabalhos já foram realizados, como as intervenções nas redes externas, no terceiro pavimento e a troca do telhado. Já as reformas e restauração do segundo pavimento e do térreo estão em andamento. Para a obra, a Secretaria investiu cerca de R$2 milhões. A previsão é de que a obra seja concluída em março de 2013.

* O desenho da capa foi feito por ex-alunos do Estadual Central e publicado no Boletim da escola em 2004
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