Durante um ano, o doutorando Carlos Alberto Carvalho estudará no instituto Max Delbrück Center For Molecular Medicine, onde pesquisa tratamento de tumores sólidos
Berlim, capital alemã, será o endereço do jovem doutorando Carlos Alberto de Carvalho, de apenas 25 anos, pelos próximos meses. Lá, ele já pesquisa desde o dia 13 de agosto, terapias para tratamento de tumores sólidos do câncer, como os da próstata, cabeça e pescoço.
Ex-aluno da Escola Estadual Gilberto Caldeira Brant, em em Bocaiúva, o pesquisador frequentará durante um ano, o instituto Max Delbrück Center For Molecular Medicine, referência mundial em pesquisas voltadas para a prevenção, o diagnóstico e tratamento de doenças.
Carlos é o primeiro aluno da Unimontes a conseguir uma bolsa de doutorado-sanduíche pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que incentiva o intercâmbio de estudantes e pesquisadores brasileiros na área de ciência e tecnologia, para expansão de conhecimentos e programas nacionais. Carlos irá receber uma bolsa de 1,3 mil euro, além de auxílio instalação e seguro-saúde e está sendo co-orientado por professores brasileiros da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Unimontes, além de seu professor orientador o titular, o alemão Michael Bader.
Segundo a professora de matemática da EE Gilberto Caldeira Brant, Sônia Cruz, que leciona até hoje na instituição onde o jovem doutorando estudou da pré-escola ao ensino médio, “Carlos sempre foi um aluno atípico, daquele que aproveitava o intervalo para tirar dúvidas com os professores e para antecipar questões e problemas que tinha curiosidade. Queria sempre saber o porquê e o para quê das coisas. Nos três anos que pude acompanhá-lo, senti está exigência, a aplicação dele, que tinha comportamento de investigador”, contou a professora.
Para ela, Carlos está em ‘uma área bem escolhida’ e o fato de ser oriundo de uma escola estadual mostra que “quando uma pessoa, ela consegue fazer diferença. Inclusive, ele não precisou de aulas particulares ou de reforço para passar no vestibular que foi feito em regime seriado”, frisou a educadora.
Como o pesquisador vem de uma família de origem simples, Carlos chegou a duvidar da viabilidade de dar continuidade aos estudos na faculdade na Universidade de Montes Claros, onde iniciou sua vida acadêmica. Carlos trabalhou como monitor de classe, em troca de alimentação e estadia, e hoje é considerado motivo de orgulho para a escola.
Acompanhe a entrevista exclusiva que o doutorando concedeu a Secretaria de Estado de Educação, direto de Berlim.
SEE: Porque escolheu pesquisar terapias relacionadas a tratamento de câncer, a tumores sólidos do carcinoma mais especificamente? Qual a importância deste estudo?
Carlos: Inicialmente essa e a linha de pesquisa que estudo desde a graduação. O Brasil tem um índice relevante de pessoas com o carcinoma de cabeça e pescoço. Essa neoplasia (doença) em questão está entre as seis mais frequentes no mundo e a incidência do câncer no norte de Minas é alta.
SEE: De que forma você pretende aplicar os resultados alcançados aí, na sua pesquisa no Brasil?
Carlos: Estou estudando uma proteína que pode estar associada à diminuição de metástases de tumores sólidos. Caso os resultados posteriores sejam favoráveis, estaremos diante de um novo alvo terapêutico.
SEE: Você está sendo co-orientado por um professor da UFMG e da Universidade de Montes Claros, sua universidade de origem. Qual a contribuição destes pesquisadores para a sua linha de pesquisa?
Carlos: Meu estudo principal é realizado na Unimontes. Meu co-orientador é da UFMG e foi ele quem fez a "ponte" entre mim e o Max Delbrück Center. Ele realizou o estudo prévio dessa mesma proteína em questão. Os resultados que ele obteve na época estão relacionados com diabetes e distúrbio metabólico.
SEE: O que seria este novo alvo terapêutico? Podemos falar de prazo, de método?
Carlos: Os estudos estão sendo feitos para o uso em diabetes e síndrome metabólica. A proteína que estudamos estaria associada à redução de fatores que auxiliam a célula a se multiplicar. Mas não podemos falar de prazo.
SEE: Este tipo de estudo é inédito no Brasil?
Carlos: Existem outros estudos semelhantes no país, mas acredito que não com essas proteínas. Um estudo similar foi publicado mês no mês de setembro por outro grupo se não me engano no EUA, mas não com a neoplasia do meu estudo. Esse grupo verificou o que já imaginávamos. Redução do crescimento neoplásico, mas de outro tipo de tumores. O que eu pretendo identificar e o mecanismo. Esse grupo não identificou o mecanismo de ação.
SEE: Como você avalia o fato de ser aluno de escola pública e ter galgado uma carreira acadêmica e profissional tão promissora?
Carlos: Fui aluno por toda vida no EE Gilberto Caldeira Brant. Sempre tive muita força de vontade. Mas é claro que se não tivermos de apoio não vamos a lugar algum. Tive muito apoio dos meus professores que sempre tive como amigos. E encontrei muita gente boa no meu caminho. A professora Sônia é um exemplo. Sempre me deu auxilio em tudo o que eu precisei.
SEE: Vocês têm contato até hoje?
Sim. Frequente.
SEE: Tem algum outro professor, atividade que tenha te marcado?
Carlos: Todos. Sempre tem algo de especial em algum professor. Sonia e o meu atual orientador são pessoas muito especiais para mim, porque foram pessoas que me ajudaram diretamente. A professora Sônia me deu muita forca na época do vestibular.
SEE: Teve algum fato pontual na escola que tenha sido determinante na sua formação?
Carlos: Sim. Para a área não, mas para o vestibular. A escola publica precisa urgentemente incentivar os alunos a se preparar para o vestibular. Tive vários professores que me incentivaram e isso fez o diferencial para mim.
SEE: Qual a mensagem que você deixa para jovens que estão na idade escolar, sobretudo, para os de escola pública?
Carlos: Aos estudantes é preciso dar uma atenção mais especial e aumentar os incentivos, mostrar que os desafios podem e devem ser enfrentados e driblados. A preparação para o vestibular é muito importante e merece cuidados para engajar o aluno em atividades que o auxiliariam no seu desenvolvimento.