O livro de 450 páginas que retrata a sala aula como espaço de transformação, traz duas escolas mineiras, as únicas do Brasil a serem fotografadas
Retratos de sala de aula 2004-2012, tradução livre para Classroom Portraits, é o título original do livro de 450 imagens do fotógrafo britânico, Julian Germain, recém lançado mundialmente e que traz na capa a imagem de uma escola da rede estadual de ensino de Minas Gerais, a Escola Estadual Nossa Senhora de Belo Ramo, de Belo Horizonte.
O fotógrafo viajou por 20 países e passou por nações como Qatar, Bahrein, Etiópia, Nigéria, Japão além da Europa e da América do Norte. No Brasil, duas escolas de Minas Gerais, pertencentes a rede estadual de ensino foram fotografadas, no ano de 2005.
A outra escola da rede estadual visitada pelo artista, que definiu seu foto-ensaio como um trabalho que alude ao crescimento e “faz pensar sobre a infância e a adolescência”, foi a Escola Estadual Francisca Josina, no município de Santana do Riacho, localizada na Serra do Cipó, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Em entrevista exclusiva a Secretaria de Estado de Educação, Julian Germain disse ter sido “difícil escolher uma classe (para estampar a) capa (do livro). Uma escola na África ou uma classe islâmica poderia sugerir ou até mesmo enfatizar a questão da pobreza ou da religião. E se eu escolhesse uma escola britânica, as pessoas daqui (do Reino Unido) não saberiam que se trata de um livro de fotografias de outros locais do mundo. Por isso, eu procurava uma imagem que sugerisse um projeto internacional, que veiculasse uma certa etnicidade. No geral, eu buscava um senso de igualdade no Retratos de Sala de Aulas, onde uma pessoa não é mais importante que a outra; onde todos chamam atenção. E devo admitir que na fotografia da Escola Estadual Nossa Senhora, o garoto que está na frente tem uma forte presença que puxa o leitor para a imagem”.
Para Julian, que possui outros trabalhos voltados para a realidade brasileira como o “No olho da rua” e “No maravilhoso mundo do futebol”, o objetivo desta série fotográfica não era mostrar a estrutura física das escolas. Na concepção do artista, por mais prosaica ou ultramoderna que sejam as instalações de uma escola, como um casebre sem luz elétrica na Etiópia, ou uma sala de aula no Japão, um prédio escolar é um cenário padrão em todo o mundo, passível de ser reconhecido em qualquer lugar.
O valor artístico do livro Retratos de Salas de Aulas está, portanto, no olhar dos estudantes. A tônica do trabalho, segundo ele, está no semblante dos alunos, verdadeira proposta do foto-ensaio que dialoga com o espectador sobre o quesito infância e adolescência, como um rito de passagem e metamorfose. Para o chefe do Departamento de Modernização de Educação, Regional e Internacional do Comitê de Cooperação do Governo de São Petesburgo, Leonid Ilyushin, que é também professor da Universidade de São Petesburgo e Hertzen, na Rússia, “a sala de aula não é somente um ambiente de estudo, é também o lugar onde crescemos”.
Julian explicou ainda que chegou às duas escolas da rede estadual por intermédio de amigos e de trabalhos anteriores que já tinha realizado no Brasil. “Fiquei muito interessado em visitar uma escola da zona rural. A Escola Estadual Francisa Josina foi a indicação de um amigo que conhecia um professor que ensinou por lá durante algum tempo. Eu gostaria de ter trabalhado mais com escolas brasileiras. A natureza deste trabalho é oferecer vislumbres parciais. Definitivamente não é um levantamento, mas espero, contudo, que seja fascinante. É importante também lembrar que os retratos de sala de aula brasileiros, foram feitos em 2005. Os garotos da capa já devem ter deixado a escola há um tempo”, ponderou.